Nota de Pesar – António Torrado

O escritor António Torrado faleceu, aos 81 anos, de doença prolongada.

Professor de formação, notabilizou-se ao longo de uma larga, consistente e multipremiada carreira dedicada predominantemente à literatura para a infância e juventude, tendo granjeado reconhecimento pela originalidade das suas obras e pela forma incansável como proporcionou o encontro com os seus leitores, sobretudo os mais jovens, tendo realizado milhares de encontros e visitas a escolas, colóquios, feiras do livro e similares, ao longo de mais de cinco décadas de atividade literária.

Considerado um dos mais importantes autores portugueses contemporâneos, António Torrado destacou-se também em distintos estilos de escrita, como a poesia, o cinema e o teatro.

Com efeito, e agora também com saudade, recordamos que no Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, António Torrado se iniciou como dramaturgo:

– No ano de 1994, escreveu A Flauta Sem Mágica, a partir da obra de Mozart, com encenação de José Martins, música de Sérgio Echeverri e cenografia de Catarina Amaro;

– Em 1995, escreveu A Ilustre Casa de Ramires, a partir do romance de Eça de Queirós, com encenação de Castro Guedes;

– Em 1996, a partir do conto de Mendez Ferrín, escreveu Terra de Lobos, texto bilingue para a primeira coprodução teatral profissional entre companhias de Portugal e da Galiza (Teatro do Noroeste – CDV e Teatro de Ningures), com encenação de José Martins e cenografia de José Rodrigues;

– Também em 1996, escreveu A Rosa do Adro, a partir da novela de Branquinho da Fonseca, com encenação de José Martins;

– Em 1998, adaptou a obra maior de Camilo Castelo Branco e escreveu Amores de Perdição, com encenação de José Martins e participação do concertinista Augusto Gonçalves, atualmente conhecido como Augusto Canário;

– Em 2006, também por encomenda do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, a partir de As Aventuras de João Sem Medo, escreveu Salta Para o Saco, dirigido por Elisabete Pinto, naquela que foi a sua primeira encenação;

– Em 2010, escreveu Romeu Love Julieta, a partir do clássico de William Shakespeare, numa versão para crianças dirigida por Castro Guedes, com máscaras de José Carlos Barros.

Presente em Viana do Castelo e no Teatro Municipal Sá de Miranda em variadíssimas ocasiões, António Torrado era um mestre e cultor da Língua Portuguesa, para além de criador de exceção, dono de uma atitude militantemente dedicada à escrita como ofício e senhor de uma simpatia e elegância inabaláveis.

Carinhosamente, recordamos também como era autor de algumas das mais inesquecíveis didascálias da dramaturgia portuguesa.

Nesta hora em que endereçamos à família e amigos de António Torrado as nossas mais respeitosas condolências, lembramos as suas palavras quando, numa das suas visitas a Viana do Castelo, em contacto com o público, afirmou ter sido neste Rio Lima que deu as suas “primeiras braçadas” como dramaturgo, na convicção de que, para ele, o Lethes não será o rio do esquecimento mas antes o da Eternidade, mantendo a sua obra viva através de gerações de leitores.

 

Viana do Castelo, 11 de junho de 2021.

 

Câmara Municipal de Viana do Castelo
Teatro Municipal Sá de Miranda
Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana